sábado, 18 de agosto de 2012

Delinquência Juvenil

Artigo do EGD Alberto Bittencourt
RC Recife Boa Viagem – D 4500

Fonte:
Acesso em: 18.08.2012



Everton tem seis anos. Desde que veio ao mundo, habituou-se a ficar pelas ruas. Antes, nos braços de sua mãe. Depois, por si mesmo, a esmolar. Finge tomar conta dos carros para receber uma moedinha qualquer que, no fim do dia, leva para ajudar a matar a fome da mãe e dos irmãos, pois a sua, por ora, está controlada, graças à caridade de muitas almas passantes.
Embora tenha sido matriculado na escola, lá só compareceu no primeiro dia.

Mora na favela de Santo Amaro, num barraco insalubre, mal cheiroso, quente no verão e bem frio no inverno ou à noite. A mãe, quando não está bêbada pela cachaça que ingere todos os dias, está cheia de crack. Nos momentos de lucidez, também ela vai para as ruas pedir esmolas para comprar mais drogas.

Everton olha para as pessoas, as que vêem de carro para estacionar e lhe dão uma moeda, como se fossem seres do outro mundo – para ele, elas pertencem realmente a um outro mundo, lá bem distante, o Mundo dos Ricos. Ao cometer pequenos furtos, aproveitando quase sempre desleixos e descuidos próprios de quem tudo tem, de quem pouco valoriza seus objetos por excesso de possuídos, em sua concepção, o garoto acha que está apenas indo buscar o que lhe é devido.

Everton não tem nenhum amor no coração. Palavras não sentidas como amor ao próximo, valor humano, bondade, respeito, educação, civilidade, são palavras nunca ouvidas. Até hoje só conheceu o medo, medo de apanhar da mãe, medo dos espancamentos constantes, sem pretextos. O que preenche seu espírito é o ódio. O ódio por todos, mas principalmente pelas mulheres, como a mãe que o espancava. Ele tem lá dentro um oco enorme que precisa ser preenchido, precisa ser completado. É um oco do tamanho das suas entranhas, da sua fome, da sua falta de amor. Ele tem uma idéia fixa, recuperar tudo que a vida lhe deve, por tanto ter doado aos ricos.

Everton nunca recebeu nenhuma assistência desses órgãos do governo que existem para ajudá-lo, encarregados que são de garantir o bem estar da sociedade.

Everton é quase um bicho, vive por instinto e assim, vai sobrevivendo, a duras penas, na selva de pedra e asfalto, nas calçadas e ruas, de onde olha para os muros e guaritas, tais como fortalezas proibidas. 

Aos quinze anos descobriu o uso da força e da violência para roubar. Aprendeu que os ricos não reagem, não resistem, vão logo entregando tudo que têm. Everton se sente poderoso. O cidadão, sua vítima em potencial, fisicamente e moralmente desarmado, assustado, é um prato cheio para as mais desmedidas ambições. A omissão das autoridades, a inércia, corrobora para respaldar esse sentimento no espírito de adolescentes como Everton e, nessa lógica, as vítimas que resistem devem ser punidas. Ele já puxou três vezes o gatilho, a arma apontada para o miserável que deu a partida no carro. Não quis ouvi-lo, então, merece morrer! 

Everton é um paria, não está nas prioridades nem da Polícia, nem da Justiça.
Ele, na rua, sente-se como se rei fosse. 


EGD Alberto Bittencourt 
mail: abitt9@gmail.com 
Blog: http://albertobittencourt.blogspot.com 
Rotary Club do Recife-Boa Viagem; D-4500
Governador do Centenário 2004/05
Classificação: engenharia civil"