Estamos vivendo uma época da história em que a violência se torna cada vez mais presente em todos os segmentos sociais. A violência escolar nas últimas décadas adquiriu crescente dimensão em todas as sociedades.
Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz.
“A intolerância, a ausência de parâmetros que orientem a convivência pacífica e a falta de habilidade para resolver os conflitos são algumas das principais dificuldades detectadas no ambiente escolar. Atualmente a matéria mais difícil na escola não é matemática ou a biologia; a convivência para muitos alunos e de todas as séries, talvez seja a matéria mais difícil de ser aprendida”.
Cleo Fante
Educadora que tem pesquisado a questão da violência nas escolas
dedicando-se especialmente ao fenômeno Bullying.
Aliada a violência explícita, outra forma de violência deve despertar a atenção dos profissionais de educação:
Aquela que se apresenta de forma velada, por meio de um conjunto de comportamentos cruéis intimidadores e repetitivos, prolongadamente contra uma mesma vítima e cujo poder destrutivo é perigoso à comunidade escolar e a sociedade como um todo, pelos danos causados ao psiquismo dos envolvidos, o fenômeno Bullying que gera e alimenta a violência explícita e que vem disseminando-se nos últimos anos tendo como resultados nefastos massacres em escolas em diversas partes do mundo e ultimamente no Brasil.
Definição do termo Bullying:
Palavra de origem inglesa, adotada em muitos países, para definir o desejo consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocá-la sob tensão. Conceitua comportamentos agressivos e anti-sociais.
Alguns pesquisadores consideram ser necessários no mínimo três ataques contra a mesma vítima durante o ano para sua classificação como bullying.
Assim sendo, por definição universal, é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotada por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento, insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam e ridicularizam levando outros alunos a exclusão além de danos físicos, morais e materiais.
O Fenômeno Bullying:
Vem sutilmente disseminando-se entre os escolares, quase de forma epidêmica, provocando um conjunto de sinais e sintomas caracterizando uma nova síndrome denominada por Cleo Fante como SÍNDROME DE MAUS-TRATOS REPETITIVOS.
Estimula a delinqüência e induz a outras formas de violência explícitas produzindo jovens estressados, deprimidos, com baixa-estima interferindo no processo de aprendizagem e socialização podendo chegar a desfecho trágico.
Características do Fenômeno Bullying:
ü Comportamentos produzidos de forma repetitiva num período prolongado de tempo contra uma mesma vítima;
ü Apresenta uma relação de desemquilíbrio de poder, dificultando a defesa da vítima
ü Ocorrem sem motivação evidentes
ü São comportamentos deliberados e danosos
Formas do Fenômeno Bullying:
ü Direta, incluem agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa, discriminatória, insultar, constranger);
ü Indireta, disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes visando a exclusão da vítima de seu meio social.
No Fenômeno Bullying:
As crianças vitimadas pelo comportamento bullying sofrem ao longo dos anos, muitas vezes sob a vista de seus professores, no ambiente escolar nas salas de aulas, silenciosamente de maneira cruel, através de:
Maus tratos, humilhação pública, rejeição social, gozações, perseguições, angustias e medos, desrespeito constante e repetitivo quase sempre por serem diferentes em seu biotipo.
Esse Fenômeno Bullying:
É comportamental e vitimiza crianças tornado-as reféns de ansiedade flutuante e circulante, interferindo em todos os seus processos de aprendizagem pela excessiva mobilização psíquica de medo, constrangimento, angustia e raiva reprimida.
Essas mobilizações podem resultar em dinâmicas psíquicas destrutivas de si mesmas e da sociedade como, por exemplo, a instalação do desejo de matar, por vingança, o maior número possível de pessoas, seguido de suicídio.
As Relações Interpessoais:
As más relações entre estudantes apresentam-se no repertório comportamental de muitos alunos transformando-se numa questão social extremamente preocupante. Porém a sociedade só dá atenção quando os meios de comunicação divulgam as tragédias ocorridas gerando insegurança para comunidade escolar sem que suas verdadeiras causas sejam enfocadas, não chegando a desenvolver estratégias que melhorem as relações interpessoais.
Histórico do Fenômeno:
É um fenômeno antigo tanto quanto a escola e em princípios da década de 1970, na Suécia, começou-se o estudo dos problemas desencadeados entre agressor e vítima. Na Noruega, durante vários anos foi motivo de preocupação nos meios de comunicação, pais e professores mas, sem comprometimento de forma oficial das autoridades, até que no final de 1982 com o suicídio de três crianças entre 10 e 14 anos, originou-se grande tensão e divulgação nos meios de comunicação atingindo a população de forma geral provocando o Ministério da educação da Noruega desencadeasse, em 1983, uma campanha em escala nacional contra os problemas entre agressores e vítimas.
Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen desenvolveu pesquisa com cerca de 84 mil estudantes mais de trezentos professores e cerca de mil pais. Ele constatou que um em cada sete alunos estava envolvido em caso de bullying. Tal situação originou campanha apoiada pelo governo norueguês que reduziu em 50% os casos de bullying, o que incentivou outros países como a Inglaterra, Canadá e Portugal a promoverem campanhas de intervenção.
Pesquisadores de todo o mundo atentam para esse fenômeno apontando aspectos preocupantes quanto ao seu crescimento. Com dados estatísticos obtidos nos mais diversos países pode-se afirmar que o fenômeno bullying está presente em todas as escolas do mundo.
No Brasil é pouco comentado e estudado.
ü A professora Marta Canfield e seus colaboradores (1997) pesquisou em quatro escolas públicas em Santa Maria (RS)
ü Os professores Israel Figueira e Carlos Neto (2000-2001) em duas escolas municipais do Rio de Janeiro
ü A Associação Brasileira Multi-profissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia, 2003) em onze escolas municipais do Rio de Janeiro com 5.875 alunos de 5ª a 8ª séries, mostrando que 40,5% desses alunos admitiram estar envolvidos em bullying;
ü Cleo Fante (2000-2004).
Por Dan Olweus:
Existem Diversos Conflitos:
É comum entre alunos de uma classe a existência de diversos tipos de conflitos e tensões, interações agressivas, como diversão e como forma de auto-afirmação e para comprovar as relações de forças que os alunos estabelecem entre si.
O Agressor Provoca Reações:
A existência de um agressor em potencial na classe ou vários deles, seu comportamento agressivo influenciará nas atividades dos alunos, provocando interações ásperas, violentas.
Ele prefere atacar os mais frágeis pela certeza de poder domina-los.
O agressor é irritadiço e tem acentuada necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma impositiva pelo uso da força provocam reações intensas, as vezes assumindo caráter agressivo.
A Vítima:
Apresenta características psicológicas como ansiedade, insegurança, passividade, timidez, dificuldade de impor-se e de ser agressivo e freqüentemente se mostra fisicamente indefeso, tipo bode expiatório... logo será descoberto pelo agressor(es) pois é o alvo ideal. Sua ansiedade, ausência de defesa, seu choro produzem forte sentimento de superioridade e supremacia no agressor, que pode satisfazer alguns impulsos de vingança.
ü É comum que as vítimas não contem aos professores e aos pais o que lhe acontece na escola
ü Vai isolando-se do grupo da classe aos poucos;
Por Cleo Fante:
“Por favor, valorizem os sentimentos que as vítimas expressam e entendam que para elas é muito difícil falar sobre o que lhes está ocorrendo!”